Do pintor à amizade e à pintura em Montaigne

A presente comunicação remete ao primeiro capítulo “Do pintor à amizade e à pintura” da dissertação de mestrado em Filosofia, defendida na UNESP de Marília em 2009 e intitulada “A amizade em Montaigne”. Parte-se do pressuposto de situar a metáfora do pintor como forma de Montaigne descrever suas experiências, de maneira que desenvolva uma autobiografia e mantenha viva no escrito a amizade com La Boétie. No entanto, tal experiência não permite a plena realização humana do autor e sim faz com que ele encontre uma desordenação, visto que, a essa altura, a imagem de seu amigo não se encontra mais por causa de sua morte. Nesse intuito, essa reflexão focaliza uma análise do primeiro parágrafo da seção De l’amitié dos Essais, para explanar em que medida o ensaiar permite o encontro de Montaigne com a sua humanidade. Ensaiar não sugere simplesmente um estilo literário em torno da amizade. Ensaiar significa como acontecer, ser consciente, que flui na experiência de registrar no papel a experiência da amizade. O ensaio adquire uma forma de memória, ou até mesmo, consciência de não perder a amizade de vista. Para tanto, levam-se em conta também os interlocutores, Cícero e Aristóteles, os quais são importantes para compreender o pensamento do autor e o que o conduz a citá-los em sua obra.
Nelson Maria Brechó da Silva (PUC-SP)