Montaigne em Descartes – a possível influência do argumento do sonho de Montaigne naquele de Descartes

Fundamental no processo da dúvida cartesiana, o argumento do sonho é um clássico da História da Filosofia que já foi apresentado de diferentes formas por diversos filósofos. A princípio, é um argumento cético que coloca em dúvida as percepções dos sentidos ou o conhecimento que podemos ter das coisas. Um argumento epistemológico já apresentado por Platão, Sexto Empírico, Montaigne, entre outros. Entretanto, ao ser apresentado por Descartes o argumento ganha uma nova dimensão, uma face até então desconhecida, ou inexplorada é revelada pelo filósofo: a sua capacidade de questionar a existência do mundo exterior. Nossa intenção nesse trabalho é, através da comparação entre o argumento de Descartes e os argumentos do sonho anteriores ao dele, mostrar não só a inovação cartesiana, mas também levantar a possibilidade de que essa inovação encontre suas raízes no argumento apresentado por Montaigne na Apologia de Raimond Sebond. Argumento que, por sua vez, é bastante distinto dos argumentos apresentados pelos céticos antigos, embora também não alcance o ápice de inovação cartesiana, qual seja, o questionamento da existência do mundo exterior. Fazemos notar que, a comparação entre Montaigne e Descartes revelará a semelhança maior do argumento montaigneano com o argumento cartesiano presente no Discurso do que com o das Meditações, corroborando a idéia de que há uma diferença entre os argumentos do sonho apresentador por Descartes.
Maíra Borba (UFMG)